Um dia iria acontecer. Faleceu Stéphane Hessel. Político, escritor, ensaísta, ativista. O filósofo morreu aos 95 anos de idade.
Nasceu em Berlim em 1917. Cedo saiu do país com a família para viver na França. Tendo conseguido a cidadania francesa. Com a ocupação nazista, entrou para resistência. Foi preso em 1944. Transferido para o campo de concentração de Buchenwald. Escondendo sua origem judaica, sobreviveu e escapou da prisão nazista.
Com o fim da guerra seguiu a carreira diplomática. Trabalhou na ONU, entre 1946 e 1951. Foi um dos autores da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ocupou vários cargos públicos. Se aposentou em 1983.
Ente suas obras estão os livros: “Danse avec le siècle” (“Dança com o século”, 1997), “Dix pas dans le nouveau siècle” (“Dez passos no novo século”, 2002), “Citoyen sans frontières” (“Cidadão sem fronteiras”, 2008) e “Le Chemin de l’espérance” (“O caminho da esperança”, 2011), escrito junto com o sociólogo Edgar Morin.
Escreveu também os livros-manifestos “Indignai-vos” (2010) e “Empenhai-vos” (2011).
“Indignai-vos!” obteve grande repercussão . Traduzido para 35 países. Vendeu 4 milhões de exemplares.
Conclamava aos cidadãos a se insurgirem pacificamente. A não aceitar as coisas como uma verdade única. Porque, segundo ele, em entrevista a EFe, as pessoas “Nunca devem desanimar. O mundo é menos injusto hoje do que quando eu era jovem, mas ainda continua injusto”.
Quebrou a inércia, o conformismo, e clamou por uma resistência. Fonte inspiradora para vários movimentos sociais. As manifestações da Espanha, Portugal, Grécia empunharam a bandeira dos indignados. Os levantes dos países árabes e o movimento “Occupy Wall Street” beberam nessa fonte.
A ideia deste blog nasceu à partir deste pequeno livro também.
Quanto ao sucesso surpreendente da obra o autor disse: “Isto se explica por um momento histórico. As sociedades estão perdidas, se perguntam como fazer para avançar e buscam um sentido à aventura humana”.
O que causou grande admiração foi o fato dele ter escrito este livro-manifesto aos 93 anos. A chama do inconformismo, das mudanças, da indignação, características marcantes da juventude, estava presente num senhor quase centenário. Foi uma tapa na cara.
O livro pergunta, em cada página lida: por que vocês estão parados? As injustiças estão acontecendo ao seu redor. É só olhar. Essa sociedade não é o ápice. Não é respeitosa. Os direitos fundamentais não são garantidos. Aqui não é o fim.
“A pior das atitudes é a indiferença, é dizer: não posso fazer nada, estou me virando”. É isso mesmo. A sociedade atual exige que sejamos egoístas. Existe até o mito de que o humano é individualista por natureza. Esse mito é o sustentáculo para muitos crimes. Para muitas aberrações. E para inércia reflexiva.
Coube ao senhor nonagenário nos alertar. A coisa não é bem assim. Lutemos sempre.